THALES CAVALCANTI na Audio Rebel

THALES CAVALCANTI na Audio Rebel

Nasci e cresci na Tijuca, zona norte do Rio. Na época, a Unidos da Tijuca promovia ensaios da escola na extensa Rua Conde de Bonfim. Se a minha memória me permite dizer, foi lá onde tive o primeiro contato com o tambor. Lembro das pessoas e famílias, assim como a minha, que desciam dos prédios rumo à concentração da Unidos. A sensação era a mesma de quando o carnaval de rua costuma começar para mim. O apito, o ronco da cuíca, o repique, o tamborim, o chocalho, o agogô, a caixa, o surdo. De repente, todos tocam afinados em ritmo e harmonia. Para mim, o ano começa aí.
Eu não imaginava gravar músicas com tamanha presença do tambor. Eu não imaginava, na verdade, gravar um disco em 2020. Para ser mais exato, eu não imaginava viver muita coisa neste ano. Certamente foi um ano do qual nunca me esquecerei. Diante de tantas perdas e momentos doloridos, pude também aproveitar aquilo de bom que me apareceu pela frente. Quando penso que comecei esse álbum com o Bruno, tendo apenas a ideia de registrar uma única música, e agora, finalizando as gravações com dez faixas, não me restam dúvidas de que o meu ano de 2020 está neste disco. A começar pelo título: Verde Maduro.
Como falar de maturidade num primeiro trabalho? E como ignorar tudo aquilo que me fez chegar até aqui? Ora, um recém nascido é maduro para nascer, mas verde frente ao mundo que lhe dá boas vindas. Verde Maduro é o que acredito ser uma fase que vivo agora e que viverei para sempre. De 2020, talvez eu já esteja maduro, mas dos anos seguintes, eu me vejo verde. É por essa dicotomia que quero apresentar esse álbum: cantando vez ou outra pros orixás e pros guias, mas nunca enxergando-me na qualidade de santo. Olhando pro passado e me desfazendo daquilo que não mais está em acordo com quem sou. Imaginando o futuro e remando o barco, convicto de que muitas águas ainda vão rolar.

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