Últimos dias da exposição “Entre os cheiros da história”, no Museu Histórico Nacional, e caminhada olfativa com a artista Josely Carvalho
Termina neste domingo, dia 29 de janeiro, a exposição “Entre os cheiros da história“, da premiada artista Josely Carvalho, no Museu Histórico Nacional. No sábado, dia 28 de janeiro, às 15h, a artista fará uma caminhada olfativa gratuita com o público pela exposição. Criada especialmente para este local, a exposição conta a história do Brasil através dos cheiros, das sensações e lembranças que os odores nos remetem.
Invisível aos olhos, a instalação foi feita em canhões datados entre os séculos XVI e XX. Em 20 dos 46 canhões do pátio do museu, a artista introduziu cápsulas com 15 cheiros criados por ela em parceria com a Givaudan do Brasil, especialmente para esta mostra: da ausência à persistência; do medo à ilusão; do mar à invasão.
Para o canhão mais antigo do museu, datado do século XVI e pelo qual os historiadores têm um grande apreço, a artista criou o cheiro “Afeto”, com uma fragrância agradável, com notas adocicadas, que lembram momentos familiares e de infância. Para os canhões que participaram de guerras, o cheiro “medo”, que traz um odor salgado, de transpiração e urina. O canhão da época de Getúlio Vargas, que foi feito com tubo de esgoto, ganhou o cheiro da árvore Abricó de Macaco, que tem lindas e perfumadas flores, mas, o seu fruto denominado “bola de canhão” ao cair no chão, exala um odor que é pútrido. Para o canhão que participou da sangrenta Guerra do Paraguai, conhecido como El Cristiano, que foi fundido a partir de sinos de igreja, foi criado o cheiro “Incenso”, que traz reminiscências da colonização religiosa. Junto a este canhão, haverá o som de um sino tocando de tempos em tempos. Para falar sobre questões ambientais, alguns canhões ganharam o cheiro “Oceano”, que traz a brisa do mar, e “Mata”, com cheiro de terra molhada, e assim por diante.
Pioneira na utilização de cheiros em obras de arte no Brasil, Josely Carvalho utiliza o olfato em suas obras desde a década de 1980, como um “resgate da memória”, mas esta é a primeira vez que a artista faz uma instalação totalmente olfativa, que tem sua visualidade emprestada da coleção histórica de canhões do museu. “É uma obra não para ser vista, mas sentida, que aborda o resgate da memória histórica, transitando pelo espaço-tempo e adentrando os túneis dos canhões, que armazenam vestígios dos poderes econômicos, bélicos, políticos e sexuais, vivenciados ainda hoje com intensidade”, afirma Josely Carvalho, que ressalta que olfato tem sido pouco inserido na arte contemporânea, que privilegia os sentidos da visão e da audição.
A exposição tem patrocínio da Granado, por meio da Lei de Incentivo à Cultura da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro; e apoio da Givaudan do Brasil e Ananse. A produção é do Estúdio Sauá e a realização é do Museu Histórico Nacional.
Entrada franca