EXPOSIÇÃO “ARQUIPÉLAGO IMAGINÁRIO” – LUIZ BRAGA
Luiz Braga Celebra 50 Anos de Carreira no Paço Imperial
A grande comemoração dos 50 anos de carreira do fotógrafo paraense Luiz Braga chega ao Paço Imperial, Rio de Janeiro, no dia 9 de dezembro, em exposição concebida pelo Instituto Moreira Salles. A mostra reúne 191 fotografias produzidas da década de 1970 até a atualidade – a maioria exibida apenas uma vez. A seleção destaca a forte conexão do fotógrafo com o seu território de origem e a perspectiva intimista diante dos ambientes e personagens retratados
Com curadoria de Bitu Cassundé, a exposição “Arquipélago Imaginário” oferece uma imersão no trabalho do fotógrafo Luiz Braga. Suas imagens retratam paisagens, indivíduos, costumes e tradições do território paraense, capturadas a partir de momentos de troca e convivência. “Meu trabalho se debruça sobre o meu lugar”, orgulha-se Braga, que mantém um acervo organizado de suas fotografias desde o início da carreira, aos 18 anos.
Reconhecido por sua forte conexão com sua terra natal, Braga se dedica a conhecer profundamente os locais que fotografa. “Visito inúmeras vezes os lugares, o que me permite respeitar os códigos, o ritmo e os costumes locais. A fotografia é uma troca que depende do contato íntimo e pessoal, do diálogo e da imersão no cotidiano das pessoas. Sou, na verdade, um atravessador de afetos”, brinca o fotógrafo.
São muitos os destaques de Arquipélago Imaginário, a começar pelo caráter inédito: a grande maioria das imagens foi apresentada apenas uma única vez, quando esteve no IMS paulista. O olhar sensível do curador, apontado pelo artista, é outro ponto alto da mostra, que protagoniza também muitas fotos em preto e branco, da década de 1970. “Bitu Cassundé apresenta recortes que eu não havia percebido em meu trabalho, como o núcleo “Sintaxes Populares”, que destaca minhas imagens sobre as caligrafias”, diz Braga.
Nascido em 1956, em Belém, Luiz Braga começou sua trajetória como fotógrafo na década de 1970, atuando na publicidade antes de se tornar fotógrafo autônomo. Em paralelo, cursou arquitetura na Universidade Federal do Pará (UFPA). Em 1979, realizou sua primeira exposição individual e, desde então, passou a colaborar e expor em diversas instituições “Não poderia ter escolhido outra profissão; tampouco viver em outro lugar”, afirma.
A EXPOSIÇÃO
“Arquipélago Imaginário” é composta por nove núcleos: Sintaxes populares, O Retrato, O Antirretrato, Territórios e pertencimentos – o Norte, Nightvision – Mapa do Éden, O outro, o alheio, Arquitetura da intimidade, Afazeres e trabalhos e O Marajó. Com uma expografia original e intimista, a seleção de imagens proporciona ao público uma viagem pelos temas e elementos marcantes na obra de Luiz Braga, ressaltando o orgulho de pertencer àquele território e o respeito por cada um dos personagens fotografados.
No início do percurso, estão as imagens em preto e branco, que marcam o período inicial de sua produção. Nos núcleos seguintes, predominam as fotos coloridas, a faceta mais conhecida de seu trabalho, com ênfase na investigação da Ilha do Marajó nos últimos 20 anos.
Nos primeiros segmentos da exposição, a curadoria reforça a importância do vínculo do fotógrafo com os locais que registra e as pessoas que os habitam. Imagens da impressionante procissão do Círio de Nazaré, cenas do cotidiano ribeirinho e a arquitetura das casas de palafitas, tradicionais em Belém e arredores, mostram um rico universo. Uma fotografia de uma mulher caminhando pela rodovia Transamazônica, feita em 1996, exemplifica essa conexão.
Outra característica central em sua obra são as cenas do interior de residências e estabelecimentos, apresentadas de forma intimista. Detalhes como cortinas, relógios, vasos de flores e ventiladores evocam memórias, afetos e vestígios do tempo. O universo do trabalho também é um tema recorrente, com fotos de profissionais atuando no espaço público, como cabeleireiros, alfaiates, pescadores e açougueiros, geralmente em ação.
Entre as séries apresentadas, destaca-se “Nightvision – Mapa do Éden”, iniciada em 2006, durante a transição da técnica analógica para digital. Braga começou a explorar a fotografia noturna, inicialmente em contextos de baixa iluminação, e depois à luz do dia. O resultado são imagens em tons prata-esverdeados que ampliam sua pesquisa cromática. A série oferece uma visualidade fantástica da Amazônia, entre o verde militar e nuances de sombras, criando imagens oníricas que desafiam estereótipos frequentemente associados à região. “Estes trabalhos promovem uma imersão no território por meio da fabulação e ficção”, afirma Bitu Cassundé.
Os núcleos Retrato e Antirretrato também merecem destaque. No primeiro, a curadoria ressalta como os retratos de Braga diferem do formato clássico, onde o ambiente e os objetos ao redor são fundamentais para compor a cena. Roupas, bolas de futebol e barcos tornam-se protagonistas junto aos indivíduos. Já a seção Antirretrato reúne fotografias onde as pessoas aparecem geralmente de costas ou de lado, contemplando o horizonte ou imersas em seu cotidiano. “Esses dois núcleos estão montados de forma que o visitante aprecie os Retratos ao entrar e os Antirretratos ao sair, como se aquelas pessoas também estivessem saindo”, revela o curador.
“Arquipélago Imaginário” se encerra com a série de imagens da Ilha do Marajó, o único núcleo com todas as fotos coloridas e o maior da exposição. Território de histórias e ancestralidade, imerso nos saberes indígenas que regem a culinária e a língua, a ilha tem sido o foco de investigação de Braga nos últimos anos, com ênfase na forma, luz equatorial e cor do arquipélago. A partir do Marajó, ele sistematiza uma prática focada na escuta e na oralidade, interessada nas histórias das pessoas e nos saberes populares.
Ao visitar a exposição, o público também encontra uma cronobiografia, que reconstitui a trajetória de Braga e identifica elementos centrais da construção de sua obra, como afirma a curadoria: “A produção de Luiz Braga opera numa instância da convivência com os lugares, mergulho na dimensão do alheio e numa prática que aciona o afeto como gesto principal. O encontro desses fatores, somados a um fotógrafo que escolhe não apenas permanecer em sua terra natal, mas também a elege como terreno de aprendizado, partilha de vida e investigação, entregam ao mundo uma obra incontornável tanto para a construção de um imaginário sobre a região quanto para a consolidação da história da fotografia paraense e brasileira.”
Em cartaz até 1º de março de 2026, a mostra conta com recursos de acessibilidade, como pranchas táteis e audiodescrição.









